Às vezes
acho que não sei escrever.
Que só falo em poesia
pra engolir a faca entre os dentes.
A gengiva tá sempre cortada,
o dentista diz que eu sinto demais.
Pudera.
Nem agora,
que os lábios estão secos,
eu cesso de lamber o mundo.
O frio ainda se aguenta,
19 graus não pede conjunto de moletom
mas eu usaria hoje pra me esconder
atrás das roupas.
É esquisito isso.
Tem dia em que só pinto a cara
e me vejo nua.
Em outras uso um vestido curto
pra ficar vendo do buraquinho da casca.
Todo dia é uma roupa
e uma história de ficção diferente.
A cidade tropical
favorece a montagem
dos figurinos.
Em cidades
de tempo encoberto e chuvoso
a mesmice toma conta do armário
porque ninguém consegue usar
uma roupa de cor destacada.
Só se usam as mesmas cores,
de preferência com sapatos pretos ou caramelo,
e logo não se distingue nada
porque todo mundo fica igual.
Hoje eu quero me esconder
porque meu sangue jorra
e me tece nós na garganta.
Crescem espinhos em meus pés e mãos
e ao anoitecer,
serei um cacto
no deserto das estrelas poluídas.
É recomendável cautela na aproximação.
Sou planta feroz e posso ser Vênus
vampira em teu pescoço,
à caça de corações insones.
Dormir só não cansa mais que sonhar.
Melhor pra quem ativa a consciência do corpo,
quanto mais cansaço,
mais renúncia.
Eu não.
Trabalho sonhando.
Por isso exito em dormir.
Por essas e outras aprecio
travesseiros de cangote e outros suportes afetivos.
Mas hoje só tenho minha pele seca
e espinhos para lixar.
A noite é longa e eu tenho pressa.
Que só falo em poesia
pra engolir a faca entre os dentes.
A gengiva tá sempre cortada,
o dentista diz que eu sinto demais.
Pudera.
Nem agora,
que os lábios estão secos,
eu cesso de lamber o mundo.
O frio ainda se aguenta,
19 graus não pede conjunto de moletom
mas eu usaria hoje pra me esconder
atrás das roupas.
É esquisito isso.
Tem dia em que só pinto a cara
e me vejo nua.
Em outras uso um vestido curto
pra ficar vendo do buraquinho da casca.
Todo dia é uma roupa
e uma história de ficção diferente.
A cidade tropical
favorece a montagem
dos figurinos.
Em cidades
de tempo encoberto e chuvoso
a mesmice toma conta do armário
porque ninguém consegue usar
uma roupa de cor destacada.
Só se usam as mesmas cores,
de preferência com sapatos pretos ou caramelo,
e logo não se distingue nada
porque todo mundo fica igual.
Hoje eu quero me esconder
porque meu sangue jorra
e me tece nós na garganta.
Crescem espinhos em meus pés e mãos
e ao anoitecer,
serei um cacto
no deserto das estrelas poluídas.
É recomendável cautela na aproximação.
Sou planta feroz e posso ser Vênus
vampira em teu pescoço,
à caça de corações insones.
Dormir só não cansa mais que sonhar.
Melhor pra quem ativa a consciência do corpo,
quanto mais cansaço,
mais renúncia.
Eu não.
Trabalho sonhando.
Por isso exito em dormir.
Por essas e outras aprecio
travesseiros de cangote e outros suportes afetivos.
Mas hoje só tenho minha pele seca
e espinhos para lixar.
A noite é longa e eu tenho pressa.
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